17 agosto 2013
07 agosto 2013
Recordo a casa de meus avós paternos e volto a ter nove anos de idade. A velha alvenaria é uma construção majestosa, construída no século passado. Seu fundamento sólido foi arquitetado para durar centenas de anos, marcando - dessa forma - a trajetória de várias gerações. Volumosos pilares e grossas vigas revelam a fortaleza de sua edificação, cujo teto abriga os entusiasmos de vovó Ernestina e os silêncios de Pedro, nosso avô.
Em cada novo amanhecer, Ernestina Guilhermina Elisabeth abre as janelas de sua casa... e o ar cheiroso do campo invade e perfuma os aposentos. Há poucos móveis. A cozinha é ampla e arejada. O guarda-louça é um imponente armário, uma espécie de cristaleira, que descansa em cima de dois pés esculpidos, em forma de patas de leão. Nas extremidades do móvel, estão gravados belos arabescos de videiras e de frutos.
Na varanda, há uma mesa de madeira nobre, decorada com figuras de porcelana e com pedras semipreciosas. Todos os sábados, vovó vai ao jardim e corta flores frescas para seus jarros. Então, enfeita a mesa com uma toalha de algodão engomada, cujos bordados perfeitos lhe concedem singular beleza. São adornos bordados à luz esmaecida de um candelabro, em longas noites de conversas e de planos. Cada desenho cerzido na toalha, simboliza um sonho de Ernestina - menina-moça - educada para casar e gerar filhos. Com a mão enrugada, vovó acaricia os pontos coloridos do bordado e recorda o passado. Seu seu coração lateja de saudades.
Ernestina serve a sobremesa. O fogão a lenha esquenta o casarão nas tardes gélidas e nebulosas de julho, quando aconchegados, degustamos o doce cremoso das frutas em calda, enquanto observamos a vivacidade das labaredas do fogaréu. Lá fora, o vento minuano insiste em assobiar a mesma cantilena, fazendo estremecer o dia de tristeza e de frio. Com galhardia, a velha senhora narra a história de sua vida, a fábula da minha tribo. Um tênue fio do passado a conduz por um espaço luminoso e sossego - em seu depósito translúcido de recordações. Minha avó paterna ensina versos, canções, trava-línguas e contos populares, como se tirasse cenas de sua própria infância do avental xadrez que descansa em seu regaço. É hora do conto!
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